29 de junho de 2005

Marinheiro

No meio de um mar imenso
Navega solitário marinheiro,
Não avista porto seguro.
A bússola perdeu o norte,
Os mapas já não lhe servem.
Resta-lhe esperar por uma estrela,
Uma qualquer que lhe mostre
A mais bela constelação.

Miguel Pereira

27 de junho de 2005

O Guardador de Rebanhos II

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

Creio no Mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Sa falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

Alberto Caeiro, O Guardador de Rebanhos II

21 de junho de 2005

Mecanismos de Defesa

Uma defesa é uma distorção cognitiva que procura evitar que o auto-conceito (imagem que temos de nós próprios) seja diminuído ou danificado por ameaças tais como insucesso, a culpa, a vergonha ou o medo, através da negação, desculpa ou racionalização das nossas acções.
Embora os mecanismos de defesa aliviem a tensão e a ansiedade, não conseguem lidar com as causas do problema. Se forem usados em demasia, podem ser disfuncionais, porque inibem o crescimento indivídual e as interacções com os outros.

Carinho

Volta a passar a tua mão suave pelo meu rosto
Como a água macia de um ribeiro sobre as pedras irregulares.

Volta a olhar para mim com os teus olhos brilhantes
Como o sol que espreita por entre as nuvens cinzentas carregadas.

Volta a abraçar-me com a força do sentimento poderoso
Que transmite a energia do amor, inundando os nossos corações.

Miguel Pereira

De repente

"Vc chegou de repente, me fez mudar num segundo,
Fez nascer um sentimento, que queima dentro do peito..."

Philip Monteiro, Estou em suas mãos

20 de junho de 2005

Sou um guardador de rebanhos

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro

Procura-se um amigo

"Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor. (...)
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive."

Vinícius de Moraes

18 de junho de 2005

O que sinto

"(...) O que sinto é mais forte do que tudo o que o homem já fez até hoje, pois nenhuma bomba pode destruir um sentimento, sentimento esse, que tenho guardado onde ninguém poderá chegar. (...)"

André Vasconcelos Nunes in Tu és, sim tu és!

16 de junho de 2005

'Cultura'

"O Zahir era a fixação em tudo o que se tinha passado de geração em geração, não deixava nenhuma pergunta sem resposta, ocupava todo o espaço, não nos permitia nunca considerar a possibilidade de que as coisas mudavam.
O Zahir todo-poderoso parecia nascer com cada ser humano e ganhar toda a sua força durante a infância, impondo as suas regras, que a partir de então serão sempre respeitadas. (...)"

Paulo Coelho in O Zahir

Lágrima

"Andava com uma bilha a recolher as lágrimas de todas as mães do mundo. Queria fazer um mar só delas. -Não responda com esse sorriso, você não sabe o serviço do choro. O que faz a lágrima? A lágrima nos universa, nela regressamos ao primeiro início. Aquela gotinha é, em nós, o umbigo do mundo. A lágrima plagia o oceano..."

Mia Couto in O Último Voo do Flamingo

14 de junho de 2005

Olhar o Mundo

Amar. Ser amado. Nunca esquecer a nossa própria insignificância. Nunca nos habituarmos à violência indescritível e à disparidade grosseira da vida à nossa volta. Procurar alegria nos lugares mais tristes. Perseguir a beleza até à sepultura. Nunca simplificar o que é complicado nem complicar o que é simples. Respeitar a força, nunca o poder. Acima de tudo observar. Tentar compreender. Nunca desviar o olhar. E nunca, nunca esquecer.

Arundhati Roy in O fim da imaginação

Vazio

Sinto-me vazio.
Um deserto de vento sem sopro
Atravessado por viajante nenhum.
Os sentimentos não passam de emoções alheias
Pois em mim apenas habita uma imensidão de nada,
Como uma majestosa catedral sem crentes
Apenas com o seu silêncio e apatia.

Miguel Pereira

Um dia

Um dia percebemos que beijar uma pessoa para esquecer outra, é bobagem!
Você não só esquece a outra pessoa como pensa muito mais nela...
Um dia descobrimos que se apaixonar é inevitável...
Um dia percebemos que as melhores provas de amor são as mais simples...
Um dia percebemos que o comum não nos atrai...
Um dia saberemos que ser classificados como "o bonzinho", não é bom...
Um dia perceberemos que a pessoa que nunca te liga, é a que mais pensa em você...
Um dia saberemos a importância da frase:
"Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas."
Um dia perceberemos que somos muito importante para alguém, mas não damos valor a isso...
Um dia perceberemos como aquele amigo faz falta, mas aí já é tarde demais...
Enfim... Um dia descobriremos que apesar de viver quase 100 anos, esse tempo todo não é suficiente para realizarmos todos os nossos sonhos, para dizer tudo que tem de ser dito...
O jeito é: ou nos conformamos com a falta de algumas coisas na nossa vida ou lutamos para realizar todas as nossas loucuras...
Quem não compreende um olhar tampouco compreenderá uma longa explicação.


Mário Quintana

Peça de Teatro

«A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche.»

Arnaldo Jabor

Quem quase vive já morreu

«Para os erros há perdão; para os fracassos, chance; para os amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. O romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sofoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planeando, vivendo que esperando, porque embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.»

Luiz Fernando Veríssimo (adaptado)

Só e miserável

«Pior do que caminhar só e miserável por Genebra é estarmos com alguém ao nosso lado e fazer com que essa pessoa se sinta como se não tivesse a mínima importância na nossa vida.»

Paulo Coelho in O Zahir

Encerre ciclos

«Por isso é tão importante deixar certas coisas irem embora. Soltar. Desprender-se. As pessoas precisam de compreender que ninguém está a jogar com as cartas marcadas; às vezes ganhamos e às vezes perdemos. Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam o seu esforço, que descubram o seu génio, que entendam o seu amor. Encerre ciclos. Não por orgulho, por incapacidade ou por soberba, mas porque aquilo simplesmente já não se encaixa na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda o pó. Deixe de ser quem era e transforme-se em quem é.»

Paulo Coelho in O Zahir